quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Rapunzel em nova versão

     


          Era uma vez um sítio chamado Sítio do Pica-pau amarelo. Lá ficava um lindo castelo de onde todos os dias, Rapunzel, ao acordar, jogava suas longas tranças pela janela para que seus amiguinhos pudessem entrar e tomar o café da manhã com ela.
          Ao som dos músicos de Bremen a algazarra estava formada, junto com uma fila interminável a subir por aquela trança-escada ( devo dizer que o castelo não tinha portas e este era o único meio de entrar e sair - só Rapunzel não podia, pois quem serviria de trança para ela subir e descer?)?
Mas mesmo assim era uma festa ver o Gato de Botas todo faceiro, o tristonho patinho feio a se esconder atrás do fogão, Peter pan e sininho brincando de esconder (estes, como podiam voar não usavam as tranças). A Branca de neve sempre ia, mas recusava todas as maçãs que eram servidas, e os anões entoavam coro enquanto esperavam pelas guloseimas.
 D. Benta e tia Anastácia, apressadas na cozinha, preparavam os quitutes enquanto o Visconde de Sabugosa planejava com o Rabicó uma maneira de tirar Rapunzel do castelo onde vivia presa.
E todo dia a cena se repetia.
         Quem a teria colocado ali, a exercer esta função de escada, se perguntavam os visitantes do castelo.
-         Acho que foi a madrasta, dizia a Gata Borralheira, para que não se casasse com o príncipe. Só queria que ela trabalhasse de escada.
-         - Acho que foi o lobo mau, dizia outro, para que ela não fosse dar passeios na floresta com sua amiga Chapeuzinho vermelho.
-         Ora, certamente foi o Capitão Gancho, dizia Wendy, aquele malvado queria vê-la presa enquanto velejava pelos sete mares pilhando outros navios.
-         Talvez algum dos três porquinhos, aquele mais atrapalhado, que construiu o castelo e não colocou porta para o lobo não ter onde bater.
        E assim os dias se passavam e Rapunzel, que no início era só alegria ao receber seus amiguinhos, foi ficando triste e pensativa, Queria ela mesma conhecer o mundo do qual só tinha notícias pelo que contavam no café da manhã. Era assim como um jornal falado ao amanhecer.
         Seus amiguinhos, comandados pelo Visconde de Sabogosa se mobilizavam para criar estratégias para tirá-la dali.
-         Quem sabe plantamos um pé de feijão que possa trepar pelas paredes e servir para a escalada, se perguntava o Joãozinho.
-         Vamos jogar nela o pó de Pirlimpimpim, dizia Peter pan, aí ela poderá voar.
-          Melhor seria trazer um príncipe de terras distantes que a tomasse nos braços e a levasse daqui, suspirava Branca de Neve, Ele resolveria o problema, pois para isto são feitos os príncipes, emendava.
-         Até o Gato de Botas pensou em emprestar-lhe as botas, que facilitariam o pulo, mas era uma solução provisória. E depois, botas, pulos e aquela trança enorme não combinavam, ia embolar tudo.
Até soluções mais práticas e menos fantasiosas foram aventadas:
-         Vamos furar um buraco no castelo para servir de entrada e saída. É mais prático, diziam uns.
-         Acho melhor construirmos uma escada de madeira e colocar na janela, diziam outros.
As fadas do reino solidárias, mas sem grandes ideias de salvação lhe deram um tear para que ela pudesse se distrair nas horas vagas e quem sabe tramar alguma coisa.
         E assim, Rapunzel passava os dias, a encontrar seus amigos no café da manhã e a tecer nas outras horas. Até que um dia, inadvertidamente, espetou o dedo no fuso do tear e, ao contrário da Bela Adormecida, isto serviu para acordá-la.Ao ver o sangue jorrando e aquela dorzinha ardida, ela se perguntou:- mas o que me prende a este castelo? Como posso sair daqui?
          E Rapunzel percebeu que o que a prendia àquele castelo eram, justamente, suas tranças. Cortou-as. Que alívio. Estava agora mais leve, os cabelos curtos e soltos.Pegou suas tranças, amarrou-as na janela e foi descendo por elas. Saltitou pelo jardim, dançou, rodopiou e se alegrou. Tomou emprestada a carruagem da Cinderela e saiu dirigindo para tomar seu café da manhã na padaria da esquina
      E aquele foi um momento feliz para sempre.