sábado, 25 de maio de 2013

Crônica de domingo



Pela manhã vesti-me de esportista e saí para uma caminhada no parque municipal. Tomar o sol da manhã, sacudir o esqueleto e absorver a vitamina D eram meus objetivos mais saudáveis – pulsão de vida!

Seguindo a balaustrada da Rua Sapucaí  leio um cartaz afixado num poste:  curso de escatologia – tempo do fim. Minha visão embaralhou, o poste perdeu sua ereção eterna e minha vertigem postural benigna me fez abraçar aquele falo em riste. Tentando me manter de pé, fiquei ali por alguns segundos até recuperar meu equilíbrio. Segui meu caminho pensando se deveria fazer o tal curso que se me apresentou assim como um reflexo no espelho. Esclareço, me vi chegando aos sessenta anos – em curso, o tempo do fim. Nova vertigem.

No parque municipal uma limusine do Funeral House anunciava que _ Aqui Jazz_ com Take Five e Babaya, patrocinado pelo Bosque da Esperança, Parque Renascer etc.
Brincadeira , pensei! Já havia esbarrado na escatologia e agora jaz, funeral, esperança, renascer! Cadeiras arrumadas, palco pronto,músicos tomando seus lugares.

Assentei. Puxei a cadeira para a sombra porque já estava cheia de vitamina D e precisava proteger  a pele do sol de depois das dez. Vi de longe alguns amigos acenando mas não me mexi. Queria ficar ali com aquela inominável sensação de fim.

Até que escutei os primeiros acordes do sax, até que escutei a voz aveludada da Babaya e o cio da terra me fecundou, colhi lágrimas e com elas o milagre da emoção. A música tomou conta de todos, que cantávamos, que dançávamos juntos e separados. Nem me lembrei mais das coisas finais que encontrei pelo caminho. No final de cada música, só o estalar das palmas, os gritos, confraternização, vida!  Ainda, no final de tudo, enquanto me agitava ao som de Sonho de Carnaval, olhei para a limusine do funeral e vi, refletida no espelho, uma silhueta rebolativa e alegre, parecida comigo. Batia palmas!

Agora,que a tarde chega, é só esperar a final do campeonato mineiro – outro final! Palmas para o Atlético!!!

Revendo o texto , à noite, depois de saborear uma pizza com minha família, fui assaltada por uma pergunta: - será que o curso de escatologia inclui o aprendizado de bater palmas?



Márcia Sartorelo Carneiro

sábado, 4 de maio de 2013

Lamento




Quisera eu, feito Barros,

“Alucinar palavras”

“Fazer delirar os verbos”

“Ser salvo por não me achar”

“Fotografar perfume”

“Morar meus abismos”

“Ter profundidades sobre o nada”

“Escutar a cor dos passarinhos”

“Retirar semelhanças de árvore comigo.”

Mas ao “lamber palavras”

Encontro apenas água e terra.