segunda-feira, 8 de março de 2010

A menina e seu desejo Era manhã de junho.Aquele friozinho gostoso, céu azul limpo, sol despertando lento. Caminhava no parque observando árvores , flores, bichos, gente, meus movimentos corporais, respiração, suor, vento no rosto, cheiro de aposentadoria – prazer. Passo depois no Palácio das Artes para comprar ingressos da ópera de domingo próximo. No foyer a orquestra está afinando seus instrumentos e crianças, muitas, afinam suas emoções, aflições, expectativas com seus respectivos lugares....cadeiras enfileiradas, professoras pedindo silêncio, fazendo psiu, amarrando a cara, trocando de lugar, mandando assentar. Assento. A orquestra começa a tocar uma ária de Bizet. Crianças silenciam, rostos iluminados, ouvidos atentos, sorrisos furtivos. Também celulares pululam das bolsas querendo participar da orquestra....um desastre essa tecnologia. Palmas entusiasmadas, gritinhos em meio ao psiu das professoras. O maestro apresenta os instrumentos. Cordas – violinos, violas, violoncelos e baixos.De agudos a graves os sons imitam as cantigas de roda infância. Algumas crianças ainda reconhecem o “atirei o pau no gato” há muito esquecido , ou talvez ameaçado pela sociedade protetora dos animais.A harpa toca também. Myriam, minha amiga e seu delicado som angelical. Depois vêm os metais, as madeiras ( aquelas que são feitas de metal mas é um pequeno pedaço de madeira que define o som), e , por fim, a percussão- aquele som primitivo que mexe com nossas entranhas. E mais orquestra, maestro , Carmem, Bizet e orquestra. O maestro conversa, explica ( é um concerto didático) e de repente uma criança o interroga. Quer saber se pode ver os instrumentos de percussão de perto ( eles ficam no fundo da orquestra). O maestro diz que ao final as professoras os organizam para vê-los. A criança pergunta então se pode tocar os instrumentos. Ele delicadamente responde que não pois os instrumentos desafinam facilmente, são sensíveis. Ela então diz que quer reger a orquestra. Isto pode? Ele lhe oferece a batuta e ela ,com seu desejo decidido, se coloca diante da orquestra , levanta os braços e com a elegância de um toreador faz contornos sonoros ao redor de seu desejo. A orquestra acompanha. Ao final, vou abraçar minha amiga harpista. Conversamos. Saio do Palácio das Artes e as lágrimas me encontram distraída pensando naquela menina (e seu desejo) Brava! Bravíssima!!! Márcia Sartorelo Carneiro.

2 comentários:

  1. Que lindo, Márcia!
    Será um grande prazer acompanhar suas observações poéticas do cotidiano.
    Parabéns pela iniciativa.
    Beijo. Bia

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  2. Mami,
    Piu brava che la ragazza dalla musica è la donna che racconta la storia .. Brava, bravíssima!!

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