Do restaurante via-se a parte dos
fundos da casa. O muro de pedra, visto
de longe, suportava a parede branca circundada pela varanda. Também se avistava
o quintal, a jabuticabeira e as flores. Tudo isto se destacava entre as casas
que escorrem pelos morros na paisagem ondulada de Ouro Preto.
Cortava o ar o som das marchinhas
de carnaval e o agitar dos braços dos foliões.
Quando entrei na casa, logo
depois que a simpática senhora nos convidou para a visita, fui direto para o
jardim- quintal. Pequenas flores enfeitavam os canteiros. Colhi algumas para
(depois de secas) customizar meu caderno – abrigo da escrita- construído na
oficina de verão.
De súbito, o gato bichano Bishop, de um salto,
abocanhou um lagarto que escalava o muro e o rasgou com dentes afiados. Assustei-me com aquela cena inusitada onde um
gato escancarava toda sua animalidade diante de meus olhos tão domesticados.
Apressada, desvencilhei-me da agonia e corri para chupar umas jabuticabas doces
e fora de época que amadureciam agarradinhas aos galhos da árvore.
Ali perto, mostrava-se imponente,
o caldeirão onde Brushop – assim imaginávamos - fazia suas feitiçarias em
caldos poéticos. Também os lírios, copos de leite, antúrios vermelhos e
vegetação abundante se alastravam num convívio equilibrado e despretensioso.
Cortava o ar o som do riacho que
despencava entre pedras, do outro lado da casa, em cadência meditativa.
Lá dentro meus companheiros de
viagem observavam as camas, dosséis, quadros, objetos de decoração, retratos,
escrivaninhas, armários...Para mim tudo meio morto, meio coisa...
Só o patinho de borracha amarelo
na banheira Bishop nadava sua americanidade, alheio aos visitantes e
freqüentadores do banheiro. Parecia vivo o estrangeiro em terras brasileiras.
Parecia tão conterrâneo em terras estrangeiras. Teria sido assim com Elizabeth
Bishop?
A pergunta ainda ressoa dentro de
mim.
Márcia Sartorelo Carneiro
Só a "Brushop" e, mais que ela, seus escritos, pra fazer das "meio-coisas", dos "meio-mortos"tantas belezas chocantes nos seus escritos! E você, querida Márcia, com esse olhar escrevinhador, revivê-la nos seus! bj
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