sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ultrassom




Coração pulsando

                Cordão umbilical soando

                                          Vovó nascendo.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ao poeta


Caro Drummond,   
       
Também gastei uma hora pensando um verso.

Sei que ele está cá dentro e não quer sair.

Meu outono é só silêncio.

Mas a poesia que o silêncio guarda,

já faz cócegas em mim.



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Eme de mãe





Maria o teu nome principia na palma da minha mão...
Escutava-o cantarolar olhando com ternura para minha mãe.

Olhava também eu minha palma da mão e lá encontrava os traços finos de um eme de mamãe gravado em delicados sulcos.

Fazia coro com meu pai...”o teu nome principia na palma da minha mão...”
.
Ela tomava minhas mãos entre as suas, desenhava o contorno daquele eme com a ponta dos dedos e sorria. Depois, de mãos dadas com meu pai seguia ao som de seu canto.

 Eu ficava só. Tentava desenhar outras palavras com o eme de minha mão.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cena da janela

                                                            

Tem uma janela no meio do caminho.

Através dela

uma paisagem no incômodo de meus olhos.

Uma casinha de lona preta.

Vida quase escondida,

quase nua,

espalhada pela calçada.

Aproximo o binóculo.

Devasso a pobreza.

Afasto o asco.

Vejo o cachorro

entrando e saindo da lona preta.

Dá voltas,

fareja inseguranças,

faz a ronda.

Pombos circulam migalhas.

O homem sai, amassa latinhas.

A mulher sai, sacode panos.

O homem entra, a mulher entra.

Ajusto o foco.

O cachorro late para mim.

Recuo.

Fecho a cortina.

Tem uma janela no meio do caminho.