Para D. Vera, a dona do baile
Para Beatriz, que me contou a estória
D. Vera é mineira, costureira e quitandeira. Mora numa casinha com eiras e beiras ali para os lados do Santa Efigênia.Quando moça adorava dançar. Ia para os bailes no Elite com seu Sebastião e rodopiavam os mais românticos boleros. Agora sem marido e com aquela artrose nos joelhos ficou difícil para D. Vera se esbaldar nos salões.
Fiquei encantada! Uma parreira carregada de pequenos cachos se debruçava no avarandado e ao lado via-se um pequeno jardim. Beijos, margaridas, rosas, jasmins, manacás e prímulas se esparramavam pelo outubro primaveril. Ela me puxou pela mão para me mostrar uma pequena trepadeira que se esgueirava na noite úmida. E eu vi flores miúdas, brancas e singelas.Nunca as tinha visto e ela me disse:
- Chama-se flor do baile.
Achei diferente o nome e perguntei o porquê. Ela explicou:
- Essa flor tão delicada tem a duração de um baile, nasce e morre durante uma noite.
Fiquei tão estarrecida que a tomei nos braços e bailamos ali mesmo no jardim como duas crianças. E então ela me confidenciou:
- Essas noites de primavera em que baile nasce-morre na sua efêmera existência, eu sonho que estou dançando com meu amado. O sonho dura toda a noite e vai embora quando a flor do baile também vai. Mas este instante vale uma vida!
Aproximei-me de D. Vera e olhei em volta no jardim florido.
Os bailes, fulgurantes e prontos para viver só por uma noite, me tiraram para dançar e eu, de vestido florido, abraçada de flores bailei a primavera inteira-instante.
Que lindo, Márcia!
ResponderExcluirMuito obrigada.
É muito bom compartilhar com você esses pequenos encantos.
Beijo. Bia