domingo, 6 de março de 2011

Meu encontro com Tom Jobim

Chegou por e-mail o convite do Tom para comemorar o aniversário da Bossa Nova, em Santa Teresa, reduto da boemia belorizontina.

Dizia sobre a importância da data, o horário, local e acrescentava ao final: “chega de saudade. Não quero mais este negócio de você longe de mim!”

Bj. Tom.

Respondi imediatamente confirmando o encontro:

Ah.. "se todos fossem iguais a vc...” fizessem convites assim tão agradáveis para trilhar esta "estrada do sol" em Santa Teresa.. para curtir esta "inútil paisagem" à beira de um bar. Tomara que não esteja "chovendo na roseira" pois estas "águas de março “, teimam em cair em janeiro. Que bom que encontraremos as Ligias, Luizas e Terezas da praia. Não ligue pra esta "insensatez". É só pra dizer que estarei lá !!!

Bj.. Márcia.

E fui. Vesti-me de festa: a agitação tomou conta de mim. “È promessa de vida no meu coração!...” meu corpo todo vibrava... será que agora ele assumiria de verdade o amor? E aquele final do e-mail... chega de saudade!! Será?,

No caminho pensava comigo mesma: “ já conheço os passos desta estrada, sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor... já conheço as pedras do caminho...”

Ah, deixa pra lá, pensava também, no fim sobra sempre um retrato em branco e preto... de recordação!

Achei logo uma vaga para estacionar bem perto do Marilton’s e ao fazer a manobra escutei um assobio e no fundo alguém que dizia: “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela que vem e que passa com seu doce balanço a caminho do bar...”

Era ele. Assentado me esperava com seu chapéu panamá, terno branco de linho, sorriso misterioso e o olhar...ah, o olhar! “Este seu olhar quando encontra o meu, fala de coisas que eu nem posso acreditar!” Misericórdia!! Assentei.

Ele me disse enlevado: “vem cá, me dê tua mão. O teu desejo é sempre o meu desejo. Vem, me exorciza. Dá-me tua boca e a rosa louca. Vem me dar um beijo...”

Me entreguei nos seus braços e lábios e me perdi de tanto amor.

Depois de agradecer ao garçom pelo chope que ele prontamente me trouxe, disse sorrindo:

-“É, só eu sei, quanto amor eu guardei, sem saber que era só pra você.”

-“Que maravilha viver”, ele suspirava, entre um gole e outro.’

A noite, as pessoas, as vozes, os risos, os chopes, os sons e as cores fizeram cenário para este encontro de palavras e gestos, de melodias e tons. Até que lá pelas tantas, escutei baixinho:

-“ É de manhã. Quero que você me dê a mão. Vamos sair pra ver o sol”...

Alguém esbarrou em mim e eu percebi que os garçons já recolhiam os copos, colocavam as cadeiras pra cima das mesas, limpavam o chão e o quarteto Bossa Nova guardava seus instrumentos depois do último acorde.

O dia realmente nascia sonolento e na mesa o jornal do dia estampava na primeira folha a fotografia da comemoração esplendorosa dos 50 anos da Bossa Nova, no Marilton’s, em Santa Teresa.

Retrato em branco e preto...pensei eu enquanto segurava o chapéu panamá branco de minhas lembranças.

Márcia Sartorelo Carneiro.

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