Assentada na varanda da casa estilo inglês, tomava chá de rosa mosqueta e admirava a beleza do lago Lácar, na Patagônia Argentina.
Imaginei-me uma tal Elizabeth, no início do século XX, recém chegada aos arredores de San Martin de los Andes, a escolher um local de visão paradisíaca para construir sua casa. Ele estava comigo a comandar os trabalhadores no encaixe perfeito das toras de madeira que formavam as paredes da casa. Eu bordava as cortinas para enfeitar as vidraças das muitas janelas que permitiam a entrada do verde dos pinheiros e do brilho das eternas montanhas nevadas.
Um vento frio me devolveu a mim mesma e pude escutar o riso solto de minha filha e genro a saborear as média lunas adocicadas do lugar. Nossa companheira de viagem continuava fotografando cada centímetro quadrado da cordilheira dos Andes como uma topógrafa seriamente dedicada a seu trabalho.
Voltei a ser Elizabeth e a conversar com os primitivos habitantes do lugar tentando aprender a língua mapuche e me divertindo com aquele povo alegre e despreocupado. Paihuen....lugar de descanso, eu repetia. Arrayan...último raio do pôr-do-sol. Curioso que um povo tenha uma palavra para designar o último raio do pôr-do-sol. Lindo isto, eu pensava.
De novo, as vozes de meus companheiros de viagem me fizeram voltar àquele presente. -Venha, mãe, ver o sol se por atrás das montanhas nevadas, jogando prata sobre o lago Lácar e fazendo contraste luz e sombra sobre a cidade e suas matas!
E eu vi ...arrayan....naquela tarde de primavera.
A noite caiu e ao longe Elizabeth acenava se despedindo num gesto silencioso e delicado.
03 de outubro de 2011.
Muito poética e linda forma de nos fazer viajar com você pela Patagônia.
ResponderExcluirLindo mesmo!
Bjs
Arrayan? O último raio do por do sol?
ResponderExcluirE nós temos a palavra Saudade...
Vc já está com saudade do arrayan da Patagônia?
Estas saudades que a gente traz de viagem são muito gostosas, não é?
Paula justo