Em minha caixa de correio apareceu uma frase em letras garrafais: PRECISO DO POEMA DE SEUS OLHOS. Em seguida um pedido: continue este poema e deixe-o na caixa.
Preciso do poema de seus olhos
Doce encontro de imagens e silêncios
A interrogar meus sonhos
E escrever seus traços
Preciso do poema de seus olhos
Doce encontro de sombras e cores
A despertar meus dons
E festejar meus amores
Fiz o poema e, embora o achando meio cafona, o coloquei na caixa de correio conforme pedido deste alguém secretamente romântico.
Pensei inicialmente que pudesse ser pedido de algum admirador secreto, escritor talvez, que quisesse investigar meus dons literários.
- Bobagem, menina, deve ser alguma pesquisa para saber se as pessoas aqui da casa sabem ler e escrever, disse Sá Dolores, enquanto coava o café na cozinha de minha casa.
Meu pai, lendo o jornal na mesa do café da manhã, logo quis saber do que se tratava, e ao ser colocado a par do acontecido, resmungou qualquer coisa parecida com “ vê lá com quem você está se metendo ...não se pode confiar em ninguém nos dias de hoje.”
Meu irmão, com jeito gozador, e já com o iphone nas mãos a responder seus e-mails, ria deste alguém tão careta que nos tempos da internet ainda se preocupava com cartas, poemas, olhos e caixas de correio tão pouco virtuais.
Minha mãe, ocupada que estava em nos servir o bolo de fubá com queijo saído do forno, suspirava romântica pelo acontecido. Também, se não der em nada, pelo menos servirá para você treinar sua escrita minha filha, suas notas não andam lá muito boas, disse num repentino tom de realidade.
Eu olhei todos os dias dos meus quinze anos a caixa de correio. Na primeira semana a carta poema continuava lá. Depois sumiu. Alguém pegou! Nas semanas e meses seguintes eu olhei a caixa de correio pelo menos uma vez por dia procurando uma resposta...ou outro verso que me fizesse sonhar. Nada!
Hoje, já bem crescida e vivida, ao abrir a caixa de correio encontrei outro verso, a mesma letra. PRECISO DO POEMA DE SEUS LÁBIOS. Tomei o lápis e escrevi ali mesmo: APAREÇA, VENHA PROVAR!
É noite, o bilhete já não está mais lá e ouço a campainha tocar.
Fantástica!
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