terça-feira, 17 de setembro de 2013

De vinhos e queijos



Ele era tinto- pele vermelha de descendência indígena. Encorpado, malhava diariamente na academia do bairro. De humor ácido e taninoso, às vezes apresentava-se com sabor doce no final. Chamava-se Vinho,. Malbec o sobrenome.

Ela, Lua, tinha uma aura branca , leitosa, aparentava a textura de um queijo.  Como toda mulher tinha fases – às vezes inteira, radiante, outras, tímida, em delicado fio de esperança crescente. Outras, ainda, silenciosa e desapercebida.

Lua era etérea, vivia no mundo da lua e morava na boca da noite.
Malbec tinha raízes terrenas mas às vezes ficava “alto”, parecia flutuar e cambaleava.

Vinho admirava sua pele alva e seu brilho próprio. Desejava encontrá-la pois pareciam formar um belo par.
 Lua , com ar superior, circulava desenvolta pelo céu, cumprindo sua rotina , mas , no fundo, esperava que, algum dia, alguém a tirasse daquela mesmice, e fantasiava: quem virá provar o queijo da lua? Ele, com sua flexibilidade quase líquida ( trabalhada nos alongamentos da academia de ginástica), se contorcia tentando arranjar um jeito de alcançá-la. E pensava: como me aproximar e provar o queijo da lua?

Construiu escadas, planejou foguetes, subiu árvores, voou pássaros, sonhou nuvens e nada.

Vinho cá...Lua lá...
Ele olhava...ela procurava...

Malbec, às vezes, se embriagava, e, nesta hora, quase podia tocá-la, de tão “alto” que chegava. Nestas horas , pareciam se encontrar no mundo da lua. Via-se, então, no canto da boca da noite, sorrateiro, escorrer um fio de vinho em mistura de queijo.

Mas ,logo, a sobriedade chegava e Malbec , sempre a contornar o impossível, perguntava: como me aproximar e provar o queijo da lua?
Um eco parecia responder: quem virá provar o queijo da lua?


Um comentário:

  1. Bem que Malbec e Lua podiam quebrar o tédio e percorrer os caminhos da paixão. Um antídoto para essa busca em eco, que ainda ressoa após a leitura desse belo texto.

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