Ele era tinto- pele vermelha de
descendência indígena. Encorpado, malhava diariamente na academia do bairro. De
humor ácido e taninoso, às vezes apresentava-se com sabor doce no final. Chamava-se
Vinho,. Malbec o sobrenome.
Ela, Lua, tinha uma aura branca ,
leitosa, aparentava a textura de um queijo.
Como toda mulher tinha fases – às vezes inteira, radiante, outras,
tímida, em delicado fio de esperança crescente. Outras, ainda, silenciosa e
desapercebida.
Lua era etérea, vivia no mundo da
lua e morava na boca da noite.
Malbec tinha raízes terrenas mas
às vezes ficava “alto”, parecia flutuar e cambaleava.
Vinho admirava sua pele alva e
seu brilho próprio. Desejava encontrá-la pois pareciam formar um belo par.
Lua , com ar superior, circulava desenvolta
pelo céu, cumprindo sua rotina , mas , no fundo, esperava que, algum dia,
alguém a tirasse daquela mesmice, e fantasiava: quem virá provar o queijo da
lua? Ele, com sua flexibilidade quase líquida ( trabalhada nos alongamentos da
academia de ginástica), se contorcia tentando arranjar um jeito de alcançá-la.
E pensava: como me aproximar e provar o queijo da lua?
Construiu escadas, planejou
foguetes, subiu árvores, voou pássaros, sonhou nuvens e nada.
Vinho cá...Lua lá...
Ele olhava...ela procurava...
Malbec, às vezes, se embriagava,
e, nesta hora, quase podia tocá-la, de tão “alto” que chegava. Nestas horas ,
pareciam se encontrar no mundo da lua. Via-se, então, no canto da boca da
noite, sorrateiro, escorrer um fio de vinho em mistura de queijo.
Mas ,logo, a sobriedade chegava e
Malbec , sempre a contornar o impossível, perguntava: como me aproximar e
provar o queijo da lua?
Um eco parecia responder: quem
virá provar o queijo da lua?
Bem que Malbec e Lua podiam quebrar o tédio e percorrer os caminhos da paixão. Um antídoto para essa busca em eco, que ainda ressoa após a leitura desse belo texto.
ResponderExcluir