terça-feira, 3 de julho de 2012

Uma gaiola nas asas



           Passeio minha manhã de segunda-feira pela pracinha do bairro.
 Caminho decidida a me encontrar no fim das 20 voltas com algumas calorias a menos e um tanto de energia a mais.
          À minha volta vejo as mesmas pessoas de sempre: as duas irmãs que não param de falar, cheias de tanto assunto, a dona dos dois cachorros, um na coleira, junto dela e o outro desfilando sua elegância e independência pelas ruas e calçadas. Vejo também o velhinho de passos lentos, o casal de mãos dadas, a senhora procurando companhia para comentar as novelas, os jovens exibindo-se na corrida, os carrinhos passeando os bebês e seus pais, as crianças desfilando seus velocípedes ou bicicletas, o médico-jardineiro regando suas rosas no jardim do consultório, o piano que soa ao longe ensaiando escalas maiores e menores , as maritacas em voo e gritos e tantas rotinas mais.
            Hoje, um acontecimento se fez.
            Era uma senhora, de seus 50 anos, magra, tamanho mediano, cabelos anelados e curtos que passou por mim. Trazia apoiada no ombro esquerdo uma gaiola de madeira. Dentro um passarinho, canário talvez, cantava. Achei que ela estava só passando pela praça, em direção à sua casa ou outro lugar qualquer. Mas surpresa vi que ela passeava pela praça e apontava para as árvores, mostrando-as para o pássaro. Conversando com ele apontava o céu, o vento, o espaço da cidade.
            E o pássaro olhava.
 Não se debatia querendo romper as grades e rasgar o espaço. Estava domesticado. Ela apontava. Ele olhava e cantava.
            Coisa mais triste!

Um comentário:

  1. Querida Márcia, que bom que agora anda...mas, não,em silêncio...pássaro domesticado, canta também, nem que seja olhando as árvores...quem não? existe alguém, afinal, livre? Cantemos, cantemos, minha amiga!Sua escrita se faz acontecimento.

    ResponderExcluir