domingo, 1 de agosto de 2010
Guarda este poema!
Gostaria de tê-lo feito!
Foi o que disse quando acabei de ler o poema de Antonio Cícero.
Transcrevo abaixo:
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é estar acordado por ela, isto é, estar ou ser por ela.
Por isto melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Algumas vezes digo isto quando sinto que leio algo que já estava quase pronto em mim e encontro assim prontinho fora de mim. Ou também quando algo responde a uma pergunta que venho há tempos me fazendo. Resposta germinando e, enfim... Resposta encontrada!
Foi este o caso do poema citado.
Em italiano, olhar – verbo- se traduz como guardare: io guardo...eu olho..
Para mim parecia tão contraditório que o guardar pudesse ser olhar! Guardar é esconder, tirar das vistas, não expor, não exibir, não mostrar!E essa agora? Guardar silêncio, guardar segredo, guardar-se, guarda sexo, guarda vidas...
No carnaval mulheres e homens usam só um guarda sexo.Será para olhar ou para tapar?
Nas confidências se guardam segredos. Será para esconder ou para revelar?
Nas solenidades se guarda silêncio. Será para velar ou para desvelar?
Menina você deve se guardar!!Será que para se preservar ou para se deixar mostrar?
E o guarda vidas postado na sua cabine frente ao mar? Será para olhar a vida passar? Ou para proteger a vida de passar?
Ora, guarda!
Vida, sim!
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Márcia, você deixou esse poema muito mais bonito.
ResponderExcluirA 'ilustração' com o idioma italiano é um achado tão lindo quanto o do Antônio Cícero.Instigantes e reveladores, ambos. Beijo. Bia