ARRUMADEIRA
Toca a campainha em desespero. Porta aberta, entra meio
ressabiada. Vai direto para o quarto e já começa a arrumação.
Abre as caixas e espana tudo para o chão. Às vezes escolhe
um ou dois objetos e os dispõe despretensiosamente em outro cômodo.
Os livros da estante, simetricamente enfileirados, depois de
abertos, folheados e investigados, também são varridos de seus lugares direto
para o chão. Aquele em que o lobo mau aparece tem suas páginas esfregadas e
torcidas com violência.
As bonecas, ah, as bonecas! Estas, de assentadas ou deitadas
na cama ou na casinha de papelão, depois de ninadas, despidas e nomeadas as
partes, se ajeitam em poses extravagantes.
Perfuma a casa com as bisnagas de creme ou potes de
hidratante que, depois de devidamente abertos com a ajuda dos poucos dentes,
são esvaziados num êxtase nunca visto...às vezes degustados com frenesi.
Na sala, dispõe a banqueta do piano na horizontal ou, às
vezes, de pernas para cima.
O vaso ao lado, deve ficar tombado, displicentemente, com
algumas manchas de terra pelo chão.
A cortina, depois de servir de esconderijo, ganha desenhos
de mãos e dedos que interrompem sua monotonia beje.
As almofadas das poltronas são arremessadas ao solo em poses
diversas, às vezes empoleiradas umas nas outras, servindo de escada para
alcançar algum objeto fora de lugar.
Na ponta dos pés, braços esticados, limpa a mesa pondo tudo
abaixo.
Depois de arrumada a casa, procura, no meio de toda essa
organização, a avó, o bu e a naninha – está na hora do soninho porque ninguém é
de ferro. Ufa!!
Márcia Sartorelo
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