terça-feira, 23 de setembro de 2025

 

ARRUMADEIRA

 

 

Toca a campainha em desespero. Porta aberta, entra meio ressabiada. Vai direto para o quarto e já começa a arrumação.

Abre as caixas e espana tudo para o chão. Às vezes escolhe um ou dois objetos e os dispõe despretensiosamente em outro cômodo.

Os livros da estante, simetricamente enfileirados, depois de abertos, folheados e investigados, também são varridos de seus lugares direto para o chão. Aquele em que o lobo mau aparece tem suas páginas esfregadas e torcidas com violência.

As bonecas, ah, as bonecas! Estas, de assentadas ou deitadas na cama ou na casinha de papelão, depois de ninadas, despidas e nomeadas as partes, se ajeitam em poses extravagantes.

Perfuma a casa com as bisnagas de creme ou potes de hidratante que, depois de devidamente abertos com a ajuda dos poucos dentes, são esvaziados num êxtase nunca visto...às vezes degustados com frenesi.

Na sala, dispõe a banqueta do piano na horizontal ou, às vezes, de pernas para cima.

O vaso ao lado, deve ficar tombado, displicentemente, com algumas manchas de terra pelo chão.

A cortina, depois de servir de esconderijo, ganha desenhos de mãos e dedos que interrompem sua monotonia beje.

As almofadas das poltronas são arremessadas ao solo em poses diversas, às vezes empoleiradas umas nas outras, servindo de escada para alcançar algum objeto fora de lugar.

Na ponta dos pés, braços esticados, limpa a mesa pondo tudo abaixo.

Depois de arrumada a casa, procura, no meio de toda essa organização, a avó, o bu e a naninha – está na hora do soninho porque ninguém é de ferro. Ufa!!

 

Márcia Sartorelo

 

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