Cena I
Abro a janela
Uma paisagem no incômodo de meus
olhos
Casinha de
lona preta
Vida quase
escondida
Quase nua
Espalhada pela
calçada
Aproximo o
binóculo
Devasso a
pobreza
Afasto a
repulsa
Vejo o
cachorro que entra e sai da lona preta
Dá voltas
Fareja
inseguranças
Faz a ronda
Pombos
circulam migalhas
O homem sai,
amassa latinhas
A mulher sai,
sacode panos
O homem entra,
a mulher entra
Ajusto o foco
O cachorro
late para mim
Recuo. Fecho a cortina.
Cena 2
Ouço choro de
criança
A mãe empurra
um naco de pão
“upa neguinho
começando a andar...”
O olhar do
menino me interroga
Que lhe podem
ensinar?
Amassar
latinhas feito o pai?
Fumar uma
pedra de crack feito a mãe?
Nenhum rei
para lhe visitar
Só estrelas de
graça a olhar
São libertos,
sem norte
Acorrentados à
própria sorte
Os olhinhos negros
insistem
Recuo. Fecho a
cortina.
Marcia
Sartorelo
17/102022
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