Gavetas abertas
A neta vem passar o fim de semana com ela. Geladeira
abastecida com potes de sorvete e armários lotados das “porcarias” que ela mais
gosta- balas, bombons, biscoitos. Tinha dito para a mãe dias antes: - estou com
uma saudade de comer umas porcarias na casa da vovó!
E assim ficou combinado.
Chega toda animada com aquele abraço de quebrar costelas e,
depois de se fartar com as gostosuras, se dirige àquele quartinho onde ficam as
coisas esquecidas da casa.
- Vó, estou aqui no quartinho das coisas mortas!
Das gavetas da cômoda tira os óculos de grau do bisavô, a
camisa do atlético do tio que não conheceu, os rolinhos de cabelo desbotados da
bisavó...e veste. No espelho se recria.
-Olha vovó, achei uma coisa viva, grita.
A avó corre pro quartinho achando que era barata ou traça
nas velhas gavetas.
Nas mãos da menina uma concha.
- Escuta o barulho do mar, vovó!
Abraçadas revezam a concha no ouvido. Enquanto escutam o som
uma lágrima salgada se fez mar no encontro das duas.
Onde tem criança a vida acontece, pensa a avó com ternura.
Marcia Sartorelo
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