Olhares
-Vamos nadar, vovó?
Era um convite que ele sempre me fazia. Gostávamos de nadar
juntos, apostar corrida de crawl e de costas.
Nos degraus da escada, ele me observava tirar o vestido que
revelava o maiô novo de oncinha.
- Nossa, vó, você está uma pelanca só!!
Ele me viu. Na sua espontaneidade de criança ele me viu. E
me disse o que viu.
Mergulhei tentando me esconder de mim mesma porque ele já
tinha me visto. Era inevitável.
Vontade tive, de ficar no fundo das águas e afogar aquela
oncinha pelancuda. Precisava respirar. Tomei um impulso e respirei.
A chuva caiu de repente e ele correu para casa. Achei ótimo
porque não o vendo, não me via.
Enrolei- me na toalha e entrei.
Esta chuva caiu em boa hora, pensei. Na varanda da casa,
observando a chuva, toda coberta pela toalha, só os braços livres para abraçar
o neto que se aninhou no meu colo, ouvi:
- Vó, adoro pegar essa pelanca do seu braço....
Meu olhar felino riscou o ar feito raio.
Márcia Sartorelo
25/10/2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário