terça-feira, 30 de setembro de 2025

 Olhares

 

-Vamos nadar, vovó?

Era um convite que ele sempre me fazia. Gostávamos de nadar juntos, apostar corrida de crawl e de costas.

Nos degraus da escada, ele me observava tirar o vestido que revelava o maiô novo de oncinha.

- Nossa, vó, você está uma pelanca só!!

Ele me viu. Na sua espontaneidade de criança ele me viu. E me disse o que viu.

Mergulhei tentando me esconder de mim mesma porque ele já tinha me visto. Era inevitável.

Vontade tive, de ficar no fundo das águas e afogar aquela oncinha pelancuda. Precisava respirar. Tomei um impulso e respirei.

A chuva caiu de repente e ele correu para casa. Achei ótimo porque não o vendo, não me via.

Enrolei- me na toalha e entrei.

Esta chuva caiu em boa hora, pensei. Na varanda da casa, observando a chuva, toda coberta pela toalha, só os braços livres para abraçar o neto que se aninhou no meu colo, ouvi:

- Vó, adoro pegar essa pelanca do seu braço....

Meu olhar felino riscou o ar feito raio.

 

Márcia Sartorelo

25/10/2023


Nenhum comentário:

Postar um comentário